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Capítulo 5

Estava sentindo muita coisa ao mesmo tempo. Mas principalmente raiva. Estava possessa!! Saiu chutando a porta do depósito, o que lhe rendeu muita dor no pé e mais motivos para xingar. Estava tão irritada que a chuva era a menor das suas preocupações. Mesmo tendo recém se secado, saiu da escola até sua casa a pé, deixando-a novamente encharcada. Não era tão distante, mas ainda assim o suficiente para lhe fazer chegar em casa pingando. Sua mãe não estava, tinha ido passar o fim de semana com o marido na França, então não havia ninguém além das empregadas para ouvir a porta batendo assim que ela entrou e os passos duros e irritados em direção ao quarto, onde poderia gritar irritada e sozinha.

Ao menos era o que Cherry achava.

— Aquela. Maldita. Rascal de...AAAAARGH!!! Eu quero matar ela!!

A mesma violência que usou para abrir a porta do quarto foi a que usou para fechar. Virou-se para seguir na direção do banheiro, tomar um banho e esquecer tudo aquilo quando viu Mitsuha sentada em sua cama, com as pernas cruzadas tipo perna de índio, com meio cookie para fora da boca, uma revista aberta sobre as pernas, enquanto olhava para Cherry de olhos arregalados.

— Ei...Cher... — cumprimentou, meio incerta. Os olhos de Cherry estavam arregalados ao ver a amiga ali e sua voz saiu igualmente incerta.

— Ei, Mit. Eu não sabia que você estava aqui.

— É, eu vim te ver pra saber como foi o treino. — disse Mitsuha, fechando com cuidado a revista em seu colo e levantando da cama — Tá tudo bem? Você parecia irritada com alguém.

Na cabeça de Cherry foi como se tudo tivesse congelado. Era como se o tempo tivesse correndo mais devagar enquanto a raiva dava lugar ao choque. Não esperava ter que lidar com aquilo assim tão rápido. A verdade é que não queria ter que contar sobre aquilo para ninguém. Não agora. Talvez nunca! O problema é que aquela dilatação temporal aconteceu apenas na sua cabeça.

— Cherry?

— Hm? — voltou a olhar para Mitsuha, acordando daquele devaneio.

— Você tá aí parada, com a boca aberta tem um tempo, mas ainda não respondeu. Tá tudo bem? Aconteceu alguma coisa? Foi o idiota do Robert? Se foi eu juro que parto a cara dele!

— Não! — a ruiva apressou-se em dizer. Tinha que admitir que era fofo Mitsuha com seu um metro e meio dizendo que iria partir a cara de alguém — Não foi o Robert. Nem nada. Só o treino que foi meio estressante. Sabe como é, começo de temporada e a chuva...

Esperava MUITO que sair tagarelando fosse distrair Mitsuha tempo o suficiente para ela esquecer completamente sobre o assunto. Falava e saía andando pelo quarto fazendo gestos largos e exagerados enquanto pegava uma muda de roupa em sua cômoda e se dirigia ao banheiro.

— Aliás! Quer fazer alguma coisa hoje? Sei lá, sair! A gente podia chamar seu amigo Donnie e o Belamy para irmos em algum lugar! Seria legal né?

Perguntou fechando a porta do banheiro. Nem ouviu de fato a resposta de Mitsuha, apesar de saber que ela estava respondendo porque ouvia a voz da amiga ao longe. Mas bem ao longe, como se estivesse cada uma numa ponta de um túnel. Encostou na porta e foi escorregando até sentar no chão, enfiando a toalha bem dobrada contra o rosto. Queria sumir! Queria enfiar seu bastão de lacrose pela garganta daquela insuportável rascal! E ao mesmo tempo não conseguia parar de pensar naquele maldito beijo que durou menos de um segundo.

 

─────────

 

Fechou a porta da caminhonete assim que desceu, deixando o corpo recostar-se na lataria por um instante. A chuva tinha dado uma trégua. Apesar do tempo continuar nublado e de gotas de chuva ainda pingarem de uma árvore ou outra, não havia sinal de chuva. Girando o chaveiro do carro no indicador, ficou olhando para frente com um ar pensativo antes de, sem motivo aparente, abrir um sorriso malicioso e fechar a mão ao redor da chave. Desencostou-se da lataria do carro e caminhou na direção da casa.

Obviamente seu sorriso não era tão sem motivo assim. A cena toda do depósito de material esportivo ainda estava em sua mente. E, jamais iria negar para ninguém que perguntasse, ver Cherry dando um tilt tinha sido impagável. Mas havia mais. Com certeza não era só a satisfação de ter irritado Cherry que estava ali presente. Havia algo mais que talvez nem a própria Joanna quisesse entender. Ao menos não por enquanto.

Estava tirando a chave do bolso quando notou que a porta já estava aberta. Empurrou de levinho com o quadril e foi entrando, mas parou abruptamente no meio do movimento de fechar a porta quando se deparou com um garoto de seus 14 anos, cabelo meio despenteado sentado no sofá com os pés em cima da mesa de centro. O garoto parecia focado de mais na sua partida de FIFA para notar a chegada de Joanna. Não evitou de revirar os olhos de leve. Quer dizer que tinha gasto dinheiro comprando aquele videogame para jogarem FIFA? Era uma ofensa das piores.

— Tira o pé de cima da mesa, folgado. — reclamou enquanto largava a bolsa no suporte atrás da porta.

— Joanna! — o garoto sobressaltou-se ao notar Joanna ali, pausando o jogo e largando o controle de lado.

— Eu! — respondeu com certa ironia enquanto caçava um elástico pra prender o cabelo — Cadê a Jules? Ou você agora invade minha casa sem ser convidado?

— N-não, claro que não! Qual é, eu nunca faria isso. A Jules tá lá em cima. A gente veio estudar para prova de biologia.

— Estudar. Sei. — disse Joanna estreitando os olhos claramente desconfiada.

Sonny era o melhor amigo de Jules. Foi o primeiro amigo que sua irmã fez quando se mudou para Riverside para começar os estudos no ensino fundamental. Eram inseparáveis, menos quando estavam brigando. O que acontecia com frequência. A questão é que Joanna não confiava em Sonny. Por mais que ele sempre tivesse sido muito respeitoso com ela, via no garoto alguns comportamentos babacas que via em alguns atletas do ensino médio.

— Jo! — a voz do alto da escada chamou sua atenção. Jules descia ainda secando os cabelos — Você chegou cedo. Achei que fosse encontrar as meninas.

— Só mais tarde. — dizia enquanto seguia na direção da cozinha, abrindo a geladeira para pegar uma cerveja — Então, vocês vão ’estudar’?

Jules franziu a testa aparentando estar confusa. Trocou um olhar rápido com Sonny que apenas ergueu os ombros. Claro que Joanna sabia que a irmã não era nenhum tipo de santa. Por incrível que pareça, mesmo sendo irmã de uma rascal, na sua esfera social, Jules era uma das populares, o que significava muitos olhares para cima dela. Joanna nem cobrava que Jules fosse uma santa, na verdade. Não tinha moral para tanto, afinal, na idade da mais nova, era bem pior do que ela. Mas ainda assim, era seu papel como irmã mais velha ficar de olho.

— É, tem prova de biologia na segunda e o bobão aí não sabe diferenciar uma mitocôndria de um retículo endoplasmático.

— EI! — Sonny interveio, indignado — Eu não sou tão burro assim.

Com um riso curto, Joanna meneou a cabeça negativamente. Ok. Eles eram fofos como amigos. Como AMIGOS. Joanna não queria nem sonhar com sua irmã tendo alguma coisa com Sonny. Deu um gole na cerveja e deixou sobre a mesa, seguindo de volta para a sala.

— Ótimo, então você pode começar levantando essa bunda do meu sofá e largando o meu videogame. Afinal, não dá para estudar biologia jogando FIFA.

Contrariado, Sonny entregou o controle para Joanna que tratou logo de tirar do jogo. Levantou-se do sofá pegando a mochila que estava no chão, indo até Jules. Joanna seguiu ele com o olhar até jogar-se no sofá, ouvindo claramente enquanto Jules falava algo sobre irem para cima.

— Podem estudar na mesa da cozinha, eu JURO que não faço barulho.

— Mas Jo... — Jules tentou argumentar, mas Joanna nem deu muito espaço.

— Mesa. Da. Cozinha.

Bufando irritada, Jules praguejou várias coisas que adolescentes praguejam quando são contrariados, prometendo sair de casa, ter a própria vida e todo bla bla bla que a própria Joanna já falou para os pais no passado. Com um riso curto, Joanna ficou observando eles estudarem. Vez ou outra eles paravam os estudos para implicar um com o outro ou fazer alguma piada idiota. Odiava quando começava a achar eles fofos.

— Não se preocupa bobão... — disse Jules enquanto cutucava Sonny com a ponta da caneta — vou guardar bem nosso segredinho.

Qual exatamente era o segredinho deles? Joanna não sabia. Provavelmente algo idiota. Mas Joanna já tinha parado de prestar atenção. Tinha dito quase exatamente aquelas palavras para Cherry um tempo atrás. Deixou o corpo escorregar um pouco para o lado antes de suspender as pernas por cima do braço do sofá. Olhando para o teto, ficou tentando imaginar o quanto ela estaria lhe odiando agora.

 

─────────

 

No fundo achava que tinha razão. Precisava MESMO sair um pouco. Era a melhor forma de esquecer aquela manhã terrível. Tudo tinha dado errado de manhã? Ok. Agora era hora de fazer tudo dar certo de noite. Seu fim de semana podia ter começado horrível, mas nada que não pudesse salvar.

Tinha convencido Cora e Tristan a encontrar com eles. Tinha tentado convencer Travis também, mas o garoto tinha programado uma vídeo-chamada com a namorada que tinha ficado na Coréia. Mitsuha tinha conseguido convencer Donnie e Bellamy a encontrar eles também e decididamente Cherry achava que ter a chance de se aproximar de Bellamy era o que ela precisava no momento.

O garoto era um ano mais velho. Tinha as melhores notas do seu ano e todos apostavam nele para conseguir alguma bolsa em Oxford ou Cambridge. Fosse por suas notas ou fosse como atleta. Era de uma família bastante tradicional na região e acima de tudo era lindo. E, no momento, o mais importante era que Bellamy não era Joanna Lambert.

Tinham escolhido uma cafeteria localizada no centro dessa vez. Era um ponto um pouco mais sofisticado e menos frequentado pelas pessoas da idade deles por ter uma fiscalização mais rigorosa quanto as identidades, impedindo que pudessem consumir bebidas alcoólicas, além de, claro, ter um cardápio bem mais caro. Mas de fato nenhum deles estava mesmo pensando em beber nada alcoólico naquela noite.

— Um smoothie de morango, s’il vous plait. — disse Cherry enquanto entregava o cardápio de volta ao garçom. Esperou todos os amigos pedirem antes de iniciar a conversa — Então, Cora, como foi com a garota nova hoje? Ela já virou uma rascal por completo?

— Ah, Cher... — Cora riu um pouco, pondo um pouco do cabelo para trás da orelha — elas não são tão ruins assim, achei que a gente já tinha concordado com isso! — o revirar de olhos de Cherry era o suficiente para deixar claro que ela não tinha concordado com aquilo — Ok, ok. Mas não. Ela é bem legal! Meio tímida. Um pouco travada no começo, mas quando se solta ela é realmente divertida. Vocês sabem que eu AAAAAAAAAAAMO dramas coreanos. Ela ficou de me apresentar uns bem legais. A gente até conversou de assistir alguns.

— Ah, Cher, Tris, que tragédia... — disse Mitsuha, numa encenação de tristeza profunda — parece que perdemos nossa amiga para sempre!

— Até já vejo você nos trocando para assistir coisas com sua “nova amiga”. — Tristan acabou entrando na brincadeira de Mitsuha, tentando fazer drama. Mas o sangue latino da Pevensie com certeza era melhor na arte do drama do que o polido Tristan.

— Aaaaawn, claro que não! Eu nunca abandonaria vocês! — disse Cora, sem perder o sorriso, jogando os braços ao redor do pescoço de Mitsuha para um abraço bem exagerado. Cherry apenas ria observando a cena, dando de ombros depois.

— Contanto que você não acabe indo para o lado rascal da força, acho que posso viver com isso.

Rascals? Então é sobre elas que estamos falando? — disse uma voz risonha pouco atrás de Cherry.

A ruiva virou-se para ver quem era. E, ok, ela tinha que admitir. Ele parecia um príncipe, desses de contos de fadas. O porte, a forma como ele sorria, as covinhas. Até o furinho no queixo! Sem contar a forma como jogava o cabelo para trás. Cherry até demorou para notar que estava prendendo o fôlego. Por sorte ela notou que não tinha sido a única.

— Bellamy! — Mitsuha foi a primeira a sair do “transe” para levantar e cumprimentar o garoto. Ele estava acompanhado mais atrás por um rapaz de cabelos negros e ar mais tímido. Era bonito também, mas acabava ficando ofuscado pelo amigo. Ainda assim, logo depois de cumprimentar Bellamy, Mitsuha correu para cumprimentar o outro rapaz — Donnie! Quanto tempo! Vocês conhecem o pessoal né? Cora, Tristan, Cherry.

— Ah, então essa é a famosa Cherry Depardieu. — disse Bellamy enquanto pegava a mão de Cherry de forma galante e levava até os lábios para beijar o dorso. A garota abriu um sorriso e sentiu o rosto esquentar, meneando a cabeça negativamente.

— Bem, sim. Exatamente ela.

— É um prazer finalmente ter a oportunidade de conversarmos um pouco.

Com um sorriso de canto, Cherry concordou baixinho. Era de fato uma ótima oportunidade de conversarem um pouco. Obviamente que se conheciam e já tinham se visto. Eram capitães de seus respectivos times, já tinham se encontrado em reuniões da escola ou até mesmo cerimônias de premiação. Mas nunca tiveram de fato a oportunidade de conversarem mais intimamente. Esperaram o garçom trazer mais duas cadeiras para que os garotos pudessem se acomodar por ali. Bellamy fez questão de sentar ao lado de Cherry. A garota estava tão encantada que nem notou o olhar de desagrado de Donnie.

 

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Passava um pouco das 20h quando Sonny finalmente foi embora. Depois de uma rápida discussão sobre limites e respeito à intimidade, Jules subiu as escadas pisando duro e bateu a porta se trancando no quarto. Joanna soltou um suspiro cansado e largou-se no sofá, mandando mensagem para as amigas. Não demorou trinta minutos para que as quatro estivessem ali. Mildred rapidamente foi até a geladeira em busca de alguma coisa para comer. Ao constatar que não tinha nada pronto e que nenhuma das cinco estava disposta a cozinhar, pediram três pizzas que não duraram muito.

— Então, como foi na Coraline? — Perguntou Videl para Bekai, enquanto terminava de empurrar o resto de uma fatia de pizza para dentro da boca. A coreana ergueu uma mão pedindo um instante para terminar de mastigar antes de falar.

— Foi normal. Eu não sabia que a mãe dela é descendente de coreanos. E ela parece bem simpática. Não sei porque vocês implicam tanto com ela.

— Oh, Bek, Bek, Bek. Você está chegando agora, ainda não entende as complexidades da estratificação social do nosso colégio. — disse Mildred de forma poética e dramática, girando a garrafa de cerveja entre os dedos antes de dar um gole demorado.

— Isso parece bobagem para mim. — disse Bekai, encolhendo os ombros.

— E é mesmo! Mas não fomos nós que criamos isso. — Joanna levantou-se de onde estava, pegando uns potes de condimentos, levando até a mesa de centro onde haviam duas caixas de pizza vazias e uma com metade da última ainda sobrando. Tirou as duas caixas sem nada dali e ajeitou a terceira de modo a liberar algum espaço na mesa, dispondo os potes de condimentos ali em cima — Aqui, o pote de mostarda, são os populares. Eles podem ser o que quiserem. Atletas, jovens empreendedores, o que for, mas eles sempre vão ser os populares. Acima de todos. Quase uma realeza. Aqui abaixo temos os atletas de fato. Eles e as... — e colocou lado a lado o pote de maionese e a bisnaga de ketchup — líderes de torcida estão juntos. Abaixo deles temos as patricinhas bajuladoras, os músicos descolados, os surfistas despreocupados e bem aqui estamos nós... — e colocou um saleirinho bem distante do pote de mostarda.

— Juntinhas dos nerds da banda marcial, os tocadores de flauta e do pessoal do clube de informática. — complementou Videl enquanto brincava de jogar uma azeitona para cima.

— Você não vai comer isso? — perguntou Fani com um ar de riso enquanto Videl simplesmente balançava a cabeça negativamente.

— Isso é confuso. Vocês sempre foram assim? — perguntou Bekai, olhando para os potes de condimento com a testa franzida.

— Oh, não, não. Algumas de nós até éramos amigas das populares quando a gente tinha uns...10 anos? — perguntou Fani, franzindo a testa de leve e esperando alguma confirmação das amigas. Joanna meneou a cabeça positivamente antes de complementar.

— Até os 12 anos eu ia na casa da Cherry. E ela vinha na minha casa. De alguma forma nós éramos amigas. E aí veio a adolescência e todo esse papo de popularidade e bla bla bla bla e obviamente eu... — e apontou para si — não me encaixava bem nesse mundinho. Então cá estamos, senhoras e senhores, a cruel e nada sensível divisão social do ensino médio.

— Mas a Cora é legal! — Videl tratou de falar porque aquele papo todo parecia ter feito Bekai murchar um pouco — Ela tenta ser simpática mesmo. E se vocês se deram bem, não deixa essa divisão idiota atrapalhar de vocês serem amigas, ué.

O final da conversa teve menos o impacto engraçado que Joanna queria. A garota torceu a boca para o lado e pegou os potes de condimentos, levando de volta para a cozinha. Voltou logo depois com cinco garrafas de cerveja presas entre os dedos, pondo uma na frente de cada amiga e abrindo a própria.

— Ok, chega de conversa deprê, eu ainda tenho o recorde de vinte e sete lutas consecutivas vencidas no Mortal Kombat e quero ver quem de vocês perdedoras vai conseguir me superar!

— Todas somos perdedoras, lembra Jo? — perguntou Bekai dando um riso meio sem jeito.

— É mas entre as perdedoras eu sou a campeã! — riu Joanna enquanto ligava o videogame, jogando um controle para Bekai enquanto pegava o outro para si. Agradeceu que a sequência de sangue, tripas e outras partes do corpo sendo destruídas serviu para distrair elas de toda aquela conversa anterior.

 

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A noite terminou de fato agradável. Cherry já nem lembrava o porquê tinha passado o começo do seu dia tão irritada. Tinham decidido voltar para casa andando mesmo para aproveitarem mais o tempo juntos. O primeiro a ficar foi Tristan que morava mais perto da cafeteria. Depois Mitsuha, Cora e por fim Donnie. O garoto inclusive pareceu injuriado por Bellamy ter decidido continuar o caminho até em casa, sozinho com Cherry.

— Vocês são bem amigos mesmo, não é? — perguntou Cherry alguns metros depois da casa de Donnie. Bellamy sorriu, meneando a cabeça positivamente.

— O Donnie é...quase um irmão para mim. Acho que é a pessoa mais próxima que eu tenho sem ser da minha família.

Cherry sorriu de volta para ele enquanto seguiam o caminho. Aqui e ali pontuavam o caminho com alguma conversa banal. Escola, equipe esportiva, planos para o futuro. Bellamy queria cursar medicina em Oxford. Segundo ele, estava se matando de estudar e treinar para conseguir ao menos uma bolsa. Tinha toda sua vida planejada assim como Cherry. Podiam ser mais perfeitos um para o outro? Estava tão maravilhada em ouvir os planos dele para o futuro que até demorou para notar que já estavam na rua da sua casa.

— Bem, é aqui que eu moro. — Cherry apontou para a casa antes de começar a procurar a chave em sua bolsa.

— Bom saber. Assim talvez eu possa voltar mais vezes. Se você quiser, claro. — o garoto foi andando ao seu lado todo o caminho até a porta. Pararam na frente dela enquanto Cherry sacava a chave de dentro da bolsa, voltando a olhar para Bellamy, sorrindo.

— Ah, claro! Digo, seria ótimo se você aparecesse para fazer uma visita.

Bellamy sorriu de volta e meneou a cabeça positivamente, murmurando um “ok” quase que apenas movendo os lábios. Ficou olhando demoradamente para ela antes de dar um passo à frente. Ergueu uma mão e, num movimento incerto, quase como se pedisse permissão, tocou o rosto dela. Diante da falta de negativa de Cherry, o garoto aproximou-se mais, tocando os lábios dela com os próprios. O beijo durou alguns segundos. Cherry até foi mais para perto dele, ficando um pouco na ponta dos pés para diminuir a distância. Ao final, o garoto murmurou um “a gente se vê por aí” e com um último selinho foi saindo dali, deixando para trás uma Cherry...frustrada.

Haviam muitas coisas que esperava ao beijar Bellamy. Formigamento na boca do estômago, coração acelerado, fogos de artifício em seus ouvidos, muita coisa boa. A última coisa que esperava era lembrar daquele maldito beijo no depósito de materiais esportivos. Mas a verdade era que o beijo de Bellamy não tinha causado o mesmo formigamento que o selinho rápido de Joanna. Irritada consigo mesma, abriu a porta e, num deja vu do início do seu sábado, fechou ela com força ao passar, pisando duro na direção do seu quarto.


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