Estava sentindo muita coisa ao mesmo tempo. Mas principalmente raiva. Estava possessa!! Saiu chutando a porta do depósito, o que lhe rendeu muita dor no pé e mais motivos para xingar. Estava tão irritada que a chuva era a menor das suas preocupações. Mesmo tendo recém se secado, saiu da escola até sua casa a pé, deixando-a novamente encharcada. Não era tão distante, mas ainda assim o suficiente para lhe fazer chegar em casa pingando. Sua mãe não estava, tinha ido passar o fim de semana com o marido na França, então não havia ninguém além das empregadas para ouvir a porta batendo assim que ela entrou e os passos duros e irritados em direção ao quarto, onde poderia gritar irritada e sozinha.
Ao menos era o que Cherry
achava.
— Aquela. Maldita. Rascal de...AAAAARGH!!! Eu quero matar
ela!!
A mesma violência que usou
para abrir a porta do quarto foi a que usou para fechar. Virou-se para seguir
na direção do banheiro, tomar um banho e esquecer tudo aquilo quando viu
Mitsuha sentada em sua cama, com as pernas cruzadas tipo perna de índio, com
meio cookie para fora da boca, uma revista aberta sobre as pernas, enquanto
olhava para Cherry de olhos arregalados.
— Ei...Cher... —
cumprimentou, meio incerta. Os olhos de Cherry estavam arregalados ao ver a
amiga ali e sua voz saiu igualmente incerta.
— Ei, Mit. Eu não sabia que
você estava aqui.
— É, eu vim te ver pra saber
como foi o treino. — disse Mitsuha, fechando com cuidado a revista em seu colo
e levantando da cama — Tá tudo bem? Você parecia irritada com alguém.
Na cabeça de Cherry foi como
se tudo tivesse congelado. Era como se o tempo tivesse correndo mais devagar
enquanto a raiva dava lugar ao choque. Não esperava ter que lidar com aquilo
assim tão rápido. A verdade é que não queria ter que contar sobre aquilo para
ninguém. Não agora. Talvez nunca! O problema é que aquela dilatação temporal
aconteceu apenas na sua cabeça.
— Cherry?
— Hm? — voltou a olhar para
Mitsuha, acordando daquele devaneio.
— Você tá aí parada, com a
boca aberta tem um tempo, mas ainda não respondeu. Tá tudo bem? Aconteceu
alguma coisa? Foi o idiota do Robert? Se foi eu juro que parto a cara dele!
— Não! — a ruiva apressou-se
em dizer. Tinha que admitir que era fofo Mitsuha com seu um metro e meio
dizendo que iria partir a cara de alguém — Não foi o Robert. Nem nada. Só o
treino que foi meio estressante. Sabe como é, começo de temporada e a chuva...
Esperava MUITO que sair
tagarelando fosse distrair Mitsuha tempo o suficiente para ela esquecer
completamente sobre o assunto. Falava e saía andando pelo quarto fazendo gestos
largos e exagerados enquanto pegava uma muda de roupa em sua cômoda e se
dirigia ao banheiro.
— Aliás! Quer fazer alguma
coisa hoje? Sei lá, sair! A gente podia chamar seu amigo Donnie e o Belamy para
irmos em algum lugar! Seria legal né?
Perguntou fechando a porta
do banheiro. Nem ouviu de fato a resposta de Mitsuha, apesar de saber que ela
estava respondendo porque ouvia a voz da amiga ao longe. Mas bem ao longe, como
se estivesse cada uma numa ponta de um túnel. Encostou na porta e foi
escorregando até sentar no chão, enfiando a toalha bem dobrada contra o rosto.
Queria sumir! Queria enfiar seu bastão de lacrose pela garganta daquela
insuportável rascal! E ao mesmo tempo
não conseguia parar de pensar naquele maldito beijo que durou menos de um
segundo.
─────────
Fechou a porta da
caminhonete assim que desceu, deixando o corpo recostar-se na lataria por um
instante. A chuva tinha dado uma trégua. Apesar do tempo continuar nublado e de
gotas de chuva ainda pingarem de uma árvore ou outra, não havia sinal de chuva.
Girando o chaveiro do carro no indicador, ficou olhando para frente com um ar
pensativo antes de, sem motivo aparente, abrir um sorriso malicioso e fechar a
mão ao redor da chave. Desencostou-se da lataria do carro e caminhou na direção
da casa.
Obviamente seu sorriso não
era tão sem motivo assim. A cena toda do depósito de material esportivo ainda
estava em sua mente. E, jamais iria negar para ninguém que perguntasse, ver
Cherry dando um tilt tinha sido impagável. Mas havia mais. Com certeza não era
só a satisfação de ter irritado Cherry que estava ali presente. Havia algo mais
que talvez nem a própria Joanna quisesse entender. Ao menos não por enquanto.
Estava tirando a chave do
bolso quando notou que a porta já estava aberta. Empurrou de levinho com o
quadril e foi entrando, mas parou abruptamente no meio do movimento de fechar a
porta quando se deparou com um garoto de seus 14 anos, cabelo meio despenteado
sentado no sofá com os pés em cima da mesa de centro. O garoto parecia focado
de mais na sua partida de FIFA para notar a chegada de Joanna. Não evitou de
revirar os olhos de leve. Quer dizer que tinha gasto dinheiro comprando aquele
videogame para jogarem FIFA? Era uma ofensa das piores.
— Tira o pé de cima da mesa,
folgado. — reclamou enquanto largava a bolsa no suporte atrás da porta.
— Joanna! — o garoto
sobressaltou-se ao notar Joanna ali, pausando o jogo e largando o controle de
lado.
— Eu! — respondeu com certa
ironia enquanto caçava um elástico pra prender o cabelo — Cadê a Jules? Ou você
agora invade minha casa sem ser convidado?
— N-não, claro que não! Qual
é, eu nunca faria isso. A Jules tá lá em cima. A gente veio estudar para prova
de biologia.
— Estudar. Sei. — disse
Joanna estreitando os olhos claramente desconfiada.
Sonny era o melhor amigo de
Jules. Foi o primeiro amigo que sua irmã fez quando se mudou para Riverside
para começar os estudos no ensino fundamental. Eram inseparáveis, menos quando
estavam brigando. O que acontecia com frequência. A questão é que Joanna não
confiava em Sonny. Por mais que ele sempre tivesse sido muito respeitoso com
ela, via no garoto alguns comportamentos babacas que via em alguns atletas do
ensino médio.
— Jo! — a voz do alto da
escada chamou sua atenção. Jules descia ainda secando os cabelos — Você chegou
cedo. Achei que fosse encontrar as meninas.
— Só mais tarde. — dizia
enquanto seguia na direção da cozinha, abrindo a geladeira para pegar uma
cerveja — Então, vocês vão ’estudar’?
Jules franziu a testa
aparentando estar confusa. Trocou um olhar rápido com Sonny que apenas ergueu
os ombros. Claro que Joanna sabia que a irmã não era nenhum tipo de santa. Por
incrível que pareça, mesmo sendo irmã de uma rascal, na sua esfera social, Jules era uma das populares, o que
significava muitos olhares para cima dela. Joanna nem cobrava que Jules fosse
uma santa, na verdade. Não tinha moral para tanto, afinal, na idade da mais
nova, era bem pior do que ela. Mas ainda assim, era seu papel como irmã mais
velha ficar de olho.
— É, tem prova de biologia
na segunda e o bobão aí não sabe diferenciar uma mitocôndria de um retículo
endoplasmático.
— EI! — Sonny interveio,
indignado — Eu não sou tão burro assim.
Com um riso curto, Joanna
meneou a cabeça negativamente. Ok. Eles eram fofos como amigos. Como AMIGOS.
Joanna não queria nem sonhar com sua irmã tendo alguma coisa com Sonny. Deu um
gole na cerveja e deixou sobre a mesa, seguindo de volta para a sala.
— Ótimo, então você pode
começar levantando essa bunda do meu
sofá e largando o meu videogame.
Afinal, não dá para estudar biologia jogando FIFA.
Contrariado, Sonny entregou
o controle para Joanna que tratou logo de tirar do jogo. Levantou-se do sofá
pegando a mochila que estava no chão, indo até Jules. Joanna seguiu ele com o
olhar até jogar-se no sofá, ouvindo claramente enquanto Jules falava algo sobre
irem para cima.
— Podem estudar na mesa da
cozinha, eu JURO que não faço barulho.
— Mas Jo... — Jules tentou
argumentar, mas Joanna nem deu muito espaço.
— Mesa. Da. Cozinha.
Bufando irritada, Jules
praguejou várias coisas que adolescentes praguejam quando são contrariados,
prometendo sair de casa, ter a própria vida e todo bla bla bla que a própria
Joanna já falou para os pais no passado. Com um riso curto, Joanna ficou
observando eles estudarem. Vez ou outra eles paravam os estudos para implicar
um com o outro ou fazer alguma piada idiota. Odiava quando começava a achar
eles fofos.
— Não se preocupa bobão... —
disse Jules enquanto cutucava Sonny com a ponta da caneta — vou guardar bem
nosso segredinho.
Qual exatamente era o
segredinho deles? Joanna não sabia. Provavelmente algo idiota. Mas Joanna já
tinha parado de prestar atenção. Tinha dito quase exatamente aquelas palavras
para Cherry um tempo atrás. Deixou o corpo escorregar um pouco para o lado
antes de suspender as pernas por cima do braço do sofá. Olhando para o teto,
ficou tentando imaginar o quanto ela estaria lhe odiando agora.
─────────
No fundo achava que tinha
razão. Precisava MESMO sair um pouco. Era a melhor forma de esquecer aquela
manhã terrível. Tudo tinha dado errado de manhã? Ok. Agora era hora de fazer tudo
dar certo de noite. Seu fim de semana podia ter começado horrível, mas nada que
não pudesse salvar.
Tinha convencido Cora e
Tristan a encontrar com eles. Tinha tentado convencer Travis também, mas o
garoto tinha programado uma vídeo-chamada com a namorada que tinha ficado na
Coréia. Mitsuha tinha conseguido convencer Donnie e Bellamy a encontrar eles
também e decididamente Cherry achava que ter a chance de se aproximar de
Bellamy era o que ela precisava no momento.
O garoto era um ano mais
velho. Tinha as melhores notas do seu ano e todos apostavam nele para conseguir
alguma bolsa em Oxford ou Cambridge. Fosse por suas notas ou fosse como atleta.
Era de uma família bastante tradicional na região e acima de tudo era lindo. E,
no momento, o mais importante era que Bellamy não era Joanna Lambert.
Tinham escolhido uma cafeteria
localizada no centro dessa vez. Era um ponto um pouco mais sofisticado e menos
frequentado pelas pessoas da idade deles por ter uma fiscalização mais rigorosa
quanto as identidades, impedindo que pudessem consumir bebidas alcoólicas, além
de, claro, ter um cardápio bem mais caro. Mas de fato nenhum deles estava mesmo
pensando em beber nada alcoólico naquela noite.
— Um smoothie de morango, s’il vous plait. — disse Cherry enquanto
entregava o cardápio de volta ao garçom. Esperou todos os amigos pedirem antes
de iniciar a conversa — Então, Cora, como foi com a garota nova hoje? Ela já
virou uma rascal por completo?
— Ah, Cher... — Cora riu um
pouco, pondo um pouco do cabelo para trás da orelha — elas não são tão ruins
assim, achei que a gente já tinha concordado com isso! — o revirar de olhos de
Cherry era o suficiente para deixar claro que ela não tinha concordado com
aquilo — Ok, ok. Mas não. Ela é bem legal! Meio tímida. Um pouco travada no
começo, mas quando se solta ela é realmente divertida. Vocês sabem que eu
AAAAAAAAAAAMO dramas coreanos. Ela ficou de me apresentar uns bem legais. A
gente até conversou de assistir alguns.
— Ah, Cher, Tris, que
tragédia... — disse Mitsuha, numa encenação de tristeza profunda — parece que
perdemos nossa amiga para sempre!
— Até já vejo você nos
trocando para assistir coisas com sua “nova amiga”. — Tristan acabou entrando
na brincadeira de Mitsuha, tentando fazer drama. Mas o sangue latino da
Pevensie com certeza era melhor na arte do drama do que o polido Tristan.
— Aaaaawn, claro que não! Eu
nunca abandonaria vocês! — disse Cora, sem perder o sorriso, jogando os braços
ao redor do pescoço de Mitsuha para um abraço bem exagerado. Cherry apenas ria
observando a cena, dando de ombros depois.
— Contanto que você não acabe
indo para o lado rascal da força,
acho que posso viver com isso.
— Rascals? Então é sobre elas que estamos falando? — disse uma voz
risonha pouco atrás de Cherry.
A ruiva virou-se para ver
quem era. E, ok, ela tinha que admitir. Ele parecia um príncipe, desses de
contos de fadas. O porte, a forma como ele sorria, as covinhas. Até o furinho
no queixo! Sem contar a forma como jogava o cabelo para trás. Cherry até
demorou para notar que estava prendendo o fôlego. Por sorte ela notou que não
tinha sido a única.
— Bellamy! — Mitsuha foi a
primeira a sair do “transe” para levantar e cumprimentar o garoto. Ele estava
acompanhado mais atrás por um rapaz de cabelos negros e ar mais tímido. Era
bonito também, mas acabava ficando ofuscado pelo amigo. Ainda assim, logo
depois de cumprimentar Bellamy, Mitsuha correu para cumprimentar o outro rapaz —
Donnie! Quanto tempo! Vocês conhecem o pessoal né? Cora, Tristan, Cherry.
— Ah, então essa é a famosa
Cherry Depardieu. — disse Bellamy enquanto pegava a mão de Cherry de forma
galante e levava até os lábios para beijar o dorso. A garota abriu um sorriso e
sentiu o rosto esquentar, meneando a cabeça negativamente.
— Bem, sim. Exatamente ela.
— É um prazer finalmente ter
a oportunidade de conversarmos um pouco.
Com um sorriso de canto,
Cherry concordou baixinho. Era de fato uma ótima oportunidade de conversarem um
pouco. Obviamente que se conheciam e já tinham se visto. Eram capitães de seus
respectivos times, já tinham se encontrado em reuniões da escola ou até mesmo
cerimônias de premiação. Mas nunca tiveram de fato a oportunidade de
conversarem mais intimamente. Esperaram o garçom trazer mais duas cadeiras para
que os garotos pudessem se acomodar por ali. Bellamy fez questão de sentar ao
lado de Cherry. A garota estava tão encantada que nem notou o olhar de
desagrado de Donnie.
─────────
Passava um pouco das 20h
quando Sonny finalmente foi embora. Depois de uma rápida discussão sobre
limites e respeito à intimidade, Jules subiu as escadas pisando duro e bateu a
porta se trancando no quarto. Joanna soltou um suspiro cansado e largou-se no
sofá, mandando mensagem para as amigas. Não demorou trinta minutos para que as
quatro estivessem ali. Mildred rapidamente foi até a geladeira em busca de
alguma coisa para comer. Ao constatar que não tinha nada pronto e que nenhuma
das cinco estava disposta a cozinhar, pediram três pizzas que não duraram
muito.
— Então, como foi na
Coraline? — Perguntou Videl para Bekai, enquanto terminava de empurrar o resto
de uma fatia de pizza para dentro da boca. A coreana ergueu uma mão pedindo um
instante para terminar de mastigar antes de falar.
— Foi normal. Eu não sabia
que a mãe dela é descendente de coreanos. E ela parece bem simpática. Não sei
porque vocês implicam tanto com ela.
— Oh, Bek, Bek, Bek. Você
está chegando agora, ainda não entende as complexidades da estratificação
social do nosso colégio. — disse Mildred de forma poética e dramática, girando
a garrafa de cerveja entre os dedos antes de dar um gole demorado.
— Isso parece bobagem para
mim. — disse Bekai, encolhendo os ombros.
— E é mesmo! Mas não fomos
nós que criamos isso. — Joanna levantou-se de onde estava, pegando uns potes de
condimentos, levando até a mesa de centro onde haviam duas caixas de pizza
vazias e uma com metade da última ainda sobrando. Tirou as duas caixas sem nada
dali e ajeitou a terceira de modo a liberar algum espaço na mesa, dispondo os
potes de condimentos ali em cima — Aqui, o pote de mostarda, são os populares.
Eles podem ser o que quiserem. Atletas, jovens empreendedores, o que for, mas
eles sempre vão ser os populares. Acima de todos. Quase uma realeza. Aqui abaixo temos os atletas de
fato. Eles e as... — e colocou lado a lado o pote de maionese e a bisnaga de
ketchup — líderes de torcida estão juntos. Abaixo deles temos as patricinhas
bajuladoras, os músicos descolados, os surfistas despreocupados e bem aqui estamos
nós... — e colocou um saleirinho bem distante do pote de mostarda.
— Juntinhas dos nerds da
banda marcial, os tocadores de flauta e do pessoal do clube de informática. —
complementou Videl enquanto brincava de jogar uma azeitona para cima.
— Você não vai comer isso? —
perguntou Fani com um ar de riso enquanto Videl simplesmente balançava a cabeça
negativamente.
— Isso é confuso. Vocês
sempre foram assim? — perguntou Bekai, olhando para os potes de condimento com
a testa franzida.
— Oh, não, não. Algumas de
nós até éramos amigas das populares quando a gente tinha uns...10 anos? —
perguntou Fani, franzindo a testa de leve e esperando alguma confirmação das
amigas. Joanna meneou a cabeça positivamente antes de complementar.
— Até os 12 anos eu ia na
casa da Cherry. E ela vinha na minha casa. De alguma forma nós éramos amigas. E
aí veio a adolescência e todo esse papo de popularidade e bla bla bla bla e
obviamente eu... — e apontou para si — não me encaixava bem nesse mundinho.
Então cá estamos, senhoras e senhores, a cruel e nada sensível divisão social
do ensino médio.
— Mas a Cora é legal! —
Videl tratou de falar porque aquele papo todo parecia ter feito Bekai murchar
um pouco — Ela tenta ser simpática mesmo. E se vocês se deram bem, não deixa
essa divisão idiota atrapalhar de vocês serem amigas, ué.
O final da conversa teve
menos o impacto engraçado que Joanna queria. A garota torceu a boca para o lado
e pegou os potes de condimentos, levando de volta para a cozinha. Voltou logo
depois com cinco garrafas de cerveja presas entre os dedos, pondo uma na frente
de cada amiga e abrindo a própria.
— Ok, chega de conversa
deprê, eu ainda tenho o recorde de vinte e sete lutas consecutivas vencidas no
Mortal Kombat e quero ver quem de vocês perdedoras vai conseguir me superar!
— Todas somos perdedoras,
lembra Jo? — perguntou Bekai dando um riso meio sem jeito.
— É mas entre as perdedoras
eu sou a campeã! — riu Joanna enquanto ligava o videogame, jogando um controle
para Bekai enquanto pegava o outro para si. Agradeceu que a sequência de
sangue, tripas e outras partes do corpo sendo destruídas serviu para distrair
elas de toda aquela conversa anterior.
─────────
A noite terminou de fato
agradável. Cherry já nem lembrava o porquê tinha passado o começo do seu dia
tão irritada. Tinham decidido voltar para casa andando mesmo para aproveitarem
mais o tempo juntos. O primeiro a ficar foi Tristan que morava mais perto da cafeteria.
Depois Mitsuha, Cora e por fim Donnie. O garoto inclusive pareceu injuriado por
Bellamy ter decidido continuar o caminho até em casa, sozinho com Cherry.
— Vocês são bem amigos
mesmo, não é? — perguntou Cherry alguns metros depois da casa de Donnie.
Bellamy sorriu, meneando a cabeça positivamente.
— O Donnie é...quase um
irmão para mim. Acho que é a pessoa mais próxima que eu tenho sem ser da minha
família.
Cherry sorriu de volta para
ele enquanto seguiam o caminho. Aqui e ali pontuavam o caminho com alguma
conversa banal. Escola, equipe esportiva, planos para o futuro. Bellamy queria
cursar medicina em Oxford. Segundo ele, estava se matando de estudar e treinar
para conseguir ao menos uma bolsa. Tinha toda sua vida planejada assim como
Cherry. Podiam ser mais perfeitos um para o outro? Estava tão maravilhada em
ouvir os planos dele para o futuro que até demorou para notar que já estavam na
rua da sua casa.
— Bem, é aqui que eu moro. —
Cherry apontou para a casa antes de começar a procurar a chave em sua bolsa.
— Bom saber. Assim talvez eu
possa voltar mais vezes. Se você quiser, claro. — o garoto foi andando ao seu
lado todo o caminho até a porta. Pararam na frente dela enquanto Cherry sacava
a chave de dentro da bolsa, voltando a olhar para Bellamy, sorrindo.
— Ah, claro! Digo, seria
ótimo se você aparecesse para fazer uma visita.
Bellamy sorriu de volta e
meneou a cabeça positivamente, murmurando um “ok” quase que apenas movendo os
lábios. Ficou olhando demoradamente para ela antes de dar um passo à frente.
Ergueu uma mão e, num movimento incerto, quase como se pedisse permissão, tocou
o rosto dela. Diante da falta de negativa de Cherry, o garoto aproximou-se
mais, tocando os lábios dela com os próprios. O beijo durou alguns segundos.
Cherry até foi mais para perto dele, ficando um pouco na ponta dos pés para
diminuir a distância. Ao final, o garoto murmurou um “a gente se vê por aí” e
com um último selinho foi saindo dali, deixando para trás uma
Cherry...frustrada.
Haviam muitas coisas que
esperava ao beijar Bellamy. Formigamento na boca do estômago, coração
acelerado, fogos de artifício em seus ouvidos, muita coisa boa. A última coisa que
esperava era lembrar daquele maldito beijo no depósito de materiais esportivos.
Mas a verdade era que o beijo de Bellamy não tinha causado o mesmo formigamento
que o selinho rápido de Joanna. Irritada consigo mesma, abriu a porta e, num
deja vu do início do seu sábado, fechou ela com força ao passar, pisando duro
na direção do seu quarto.
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