Jogar videogame não ajudou a melhorar tanto assim a moral delas, então decidiram sair um pouco de casa. O destino era o mesmo bar que Joanna e Mildred tinham ido na semana passada, beber um pouco e obviamente se divertir. Estacionou o carro num espaço mais vazio antes de descer com elas até o local.
Estava consideravelmente mais vazio do que na semana passada. Sabia que o grande atrativo do local eram as bandas que tocavam na sexta, então sábado ele acabava perdendo um pouco de público para outros bares próximos. Mesmo que sentisse um pouco de falta da música ao vivo, Joanna contentou-se com o que tocava no sistema do local, até mesmo cantarolando um pouco de Still Loving You do Scorpions enquanto pegava cinco long necks no bar, carregando todas até a mesa, pondo uma na frente de cada uma das suas amigas. Acabaram rindo muito enquanto assistiam Bekai beber sua primeira cerveja, fazendo muita algazarra depois do primeiro gole dela, obviamente para encher o saco da garota.
— Isso é horrível. — reclamou Bekai enquanto colocava a garrafa de volta em cima da mesa.
— Você acostuma com o tempo. — riu Joanna, dando mais um gole antes de colocar a garrafa sobre a mesa.
— Mas e aí, como foi na detenção hoje? Ir pro colégio dia de sábado deve ser uma merda — disse Videl antes de dar mais um gole na cerveja.
— Ah, não deve ser tão ruim assim. — disse Fani, recebendo várias reviradas de olhos das amigas — Mas não deve ser mesmo! Tem menos gente na biblioteca, deve ser mais fácil de encontrar os livros que eu quero.
— Fani, você é única. — disse Joanna, dando uma risada curta antes de responder Videl — Foi normal. Choveu bastante e foi uma merda recolher o material do time de futebol e de rugby. Ugh! Ainda bem que quem lava a roupa daquele povo é a lavanderia, já foi nojento recolher aqueles uniformes cheios de lama.
— Ugh. — Videl fez uma careta junto com as outras três antes de falar — Mas não dá nem para espiar os gostosões dos times no banho rapidinho?
— Meu deus, Videl, você é muito viciada em macho. — riu Joanna, antes de fazer um biquinho triste antes responder — Mas infelizmente só tenho a chave do armário de materiais, nada de acesso aos vestiários.
— Pena. — disse Mildred, com um ar de riso — Aparentemente nada de interessante aconteceu então.
Com um riso curto e um “pois é” baixinho, Joanna tratou de ocupar a boca com cerveja enquanto desviava o olhar. Mentalmente pensava que tinha acontecido sim algo interessante, mas por alguns motivos preferiu não falar. Entre eles havia o fato de que suas amigas lhe encheriam muito o saco se soubessem. E também havia o fato de que queria convencer a si mesma que não era nada tão grande como seu cérebro tentava fazer parecer. Sacudindo a cabeça negativamente, olhou ao redor até que seus olhos encontraram os de uma garota de cabelos vermelhos no bar. Não ruivo, vermelho mesmo, da cor de um tomate. Ela sorriu em sua direção que entendeu bem o recado. Deu outro gole na cerveja antes de bate-la com força na mesa.
— A gente não veio aqui só para encher a cara né? Não mesmo. Então eu sugiro vocês não ficarem a noite toda nessa mesa, porque eu mesma não vou ficar parada aqui.
E com uma piscadela na direção das amigas, seguiu na direção do bar, pronta para tentar deixar aquele sábado para trás.
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Cherry com certeza achava que iria dormir de forma mais tranquila naquela noite. Tinha beijado o garoto perfeito da escola, com a possibilidade de saírem mais vezes, mas a verdade é que dormiu muito mal aquela noite. Depois de dormir e acordar várias vezes, sentindo que não iria conseguir mais dormir, decidiu levantar-se.
A casa estava meio vazia. Sem sua mãe e casa, só estavam ela e parte dos empregados na casa. Ter tão pouca gente em casa não ajudava em nada sua tarefa de colocar a cabeça no lugar. Precisava fazer algo. Estudar não parecia o suficiente para se distrair e ficar no quarto assistindo série ou ouvindo música também não parecia ajudar em nada. Depois de muito andar pela casa em busca de alguma solução para distrair sua cabeça, acabou tomando uma decisão.
Mandou mensagem para todos os seus amigos convidando eles para almoçar com ela e passar a tarde ali. Mas o mais importante, iria fazer algo que nunca fez em toda sua vida: cozinhar. Aprender algo novo devia ocupar sua cabeça o suficiente para que ela não ficasse pensando no armário de material esportivo e principalmente em Joanna Lambert. Estava tão decidida que dispensou seus empregados para eles aproveitarem o domingo e se arrumou para ela mesma fazer as compras para o almoço.
Ok, era um pouco mais complicado do que ela esperava que fosse. Nunca tinha estado num mercado antes para comprar coisas que não fossem bobagens para ficar comendo com os amigos. Estava inclusive quebrando a cabeça para identificar a diferença entre os tipos de carne, quando um grupo de vozes chamou sua atenção.
— Sabe, eu não acharia nem um pouco ruim um pouco de agitação nessa cidade... — era a voz de Videl vinda de outro corredor. Cherry levantou a cabeça na direção da voz.
Vinham num grupo de sete pessoas. Cherry franziu a testa porque até onde lembrava, eram só quatro rascals. Cinco com a inclusão da garota intercambista. Franziu a testa na direção do garoto alto de regata e a garota de cabelo vermelho, mas o que chamou a atenção era o estado deles. Pela cara de acabados e os cabelos desalinhados, Cherry tinha a forte suspeita de que nenhum deles tinham dormido ainda.
— Você trabalha em raves duas vezes no mês no mínimo, Videl, o que você quer de mais agitado do que isso? — perguntou Joanna num tom divertido. Cherry franziu a testa ao notar que ela andava ao lado da garota de cabelo vermelho, com a mão em sua cintura. Aquilo lhe incomodou mais do que gostaria de admitir.
— Ah...sabe...agitação!!! Alguma coisa legal pra fazer nos fins de semana que não seja encher a cara na sua casa. — completou Videl com um riso curto. Joanna olhou escandalizada para ela, fingindo-se de ofendida.
— Oooh não sabia que era tão chato assim, da próxima vez vou comprar cerveja só pra mim! — Videl respondeu com um “não” bastante prolongado e dramático, agarrando o braço de Joanna como se estivesse tentando demove-la da ideia de excluí-la da cota de cerveja. Joanna revirava os olhos tentando fingir que se fazia de durona, quando seus olhos encontraram Cherry ali à frente. A ruiva não foi rápida o suficiente em disfarçar o olhar, ainda mais ao notar que Joanna tirou a mão da cintura da garota de cabelo vermelho ao vê-la ali — Ei Paris. Que surpresa te ver aqui.
— Até onde sei, qualquer um ainda pode vir no mercado. — Disse Cherry, acenando meio brevemente para os demais, com um sorrisinho mínimo antes de voltar o olhar para Joanna. O resto do grupo foi dispersando lentamente, cada um indo para um corredor sobre o pretexto de pegar alguma coisa, deixando ali apenas as três.
— Em geral é, para a plebe. É estranho ver a realeza agindo como...gente! — respondeu com um ar bem humorado, antes de ser cutucada de leve pela garota de cabelo vermelho — Ah, sim, essa é a....a....
— Meu Deus, você é horrível, sabia? — disse a garota de cabelo vermelho com um ar de riso antes de falar — Oi, meu nome é Amanda, prazer em conhece-la!
A mão estendida quase foi ignorada, mas Cherry não conseguiu engolir tanto a própria educação, então acabou apertando-a bem rapidamente. Murmurando algo sobre ir pegar algo para comer, a garota deu um selinho em Joanna antes de sair dali. Não notou a cara feia que fez para aquilo, porque quando Joanna voltou a olhar em sua direção, pareceu ter notado algo.
— Tá tudo bem?
— Ahm? Claro que está. Parfait na verdade. — Por que aquilo lhe incomodava tanto a ponto de ter lhe deixado ainda mais mal-humorada? Não fazia ideia.
— Ela é ótima né? A Melissa? — perguntou Joanna, fazendo Cherry rir um pouco.
— Achei que o nome dela era Amanda.
— Ah, sim, algo assim. — respondeu Joanna, fazendo um gesto largo como se não fosse importante.
— Não lembro dela na nossa escola. — disse Cherry, tentando soar o menos interessada possível enquanto voltava a atenção para a geladeira de carne.
— Ah, ela não é. Na verdade ela nem é de Riverside. Ela estuda numa escola em Doveport.
Um “ah” insatisfeito foi a reação de Cherry à colocação de Joanna. A escola de Doveport era a principal rival de Riverside no lacrose feminino. Tentou colocar na sua cabeça que esse era o motivo da sua irritação, mesmo que não fizesse nenhum sentido, já que tinha acabado de receber aquela informação. Pigarreou e tentou forçar um ar divertido, mas que no fundo saiu um tanto quanto debochado.
— Saindo com o inimigo, Lambert?
— Ah, você sabe que eu não ligo para essas coisas. — disse Joanna, dando sutilmente de ombros. — Mas vem cá, você tá desde que a gente chegou parada aí na frente dessa geladeira. Você não faz ideia de como se escolhe carne, né?
Por mais que não quisesse admitir, Joanna estava certa. Ela não fazia ideia de como escolher aquilo. Sempre teve quem fizesse compras para ela, sempre teve quem cozinhasse para ela. Para falar a verdade, aquela ideia de comprar e cozinhar a própria comida naquele domingo parecia ter atrapalhado mais do que ajudado no momento.
— Ok! Eu nunca fiz isso na vida! Você mesma disse, a realeza não costuma sair para fazer a própria comida. Nem a preparar. Agora, se não se importa, você só está me atrapalhando.
E, voltando a olhar para frente, abriu a geladeira mais uma vez. Joanna permaneceu olhando para ela, com aquele sorriso maroto carregado de satisfação. Ficou um tempo ali, apenas escorada na geladeira, sabendo que Cherry fazia um esforço gigantesco para lhe ignorar, mas que no fundo estava se irritando com sua presença. No fim, soltando um “tsc” baixo, afastou-se de onde estava escorada, quase passando por cima da ruiva enquanto começava a mexer nas carnes.
— É bom dar uma olhada na cor da carne. Carne mais vermelhinha significa que ela está mais saudável. Tipo essa. Já umas mais escuras indicam que a carne é mais velha e pode não ser lá muito boa...
Joanna ia falando sem nem notar que Cherry tinha travado ali. Com sua completa falta de noção de espaço pessoal, não notou que estava quase colada nas costas de Cherry que estava agora espremida entre ela e a geladeira. A ruiva sentiu a respiração ficar mais rápida e o pulso acelerar. A última vez que estiveram tão próximas assim, foi no armário de materiais esportivos e terminou, bem...lembrar daquilo causou um choque que despertou Cherry. Instintivamente, a garota empurrou Joanna, olhando para ela com a respiração rápida.
— Eu não pedi sua ajuda. Você, na verdade, devia ficar longe de mim.
— Que? — Joanna olhou confusa para Cherry, piscando os olhos rapidamente, claramente confusa — Qual foi, Paris, só estou te ajudando com a carne, para você não levar porcaria para casa.
— Como eu disse, eu não te pedi ajuda. Você deveria voltar para perto da sua namorada. — por mais que tentasse soar indiferente, se odiou por aquela frase soar como uma indireta. Joanna revirou os olhos antes de responder.
— Ela não é minha namorada. Eu conheci a Emily ontem no bar.
— Amanda, Lambert. O nome dela é Amanda. — disse Cherry enquanto voltava o olhar para Joanna, tentando não parecer satisfeita por ela falar que não namorava a garota. Olhou então para a bandeja de carne que a Lambert lhe ofertava e pegou com cuidado — De toda forma, obrigada.
— Não precisa agradecer. — respondeu Joanna, mantendo os olhos em Cherry, ainda confusa com a reação anterior dela. Torceu a boca um pouco para o lado enquanto a ruiva murmurava um “com licença” e ia se afastando. — A gente se vê na escola, Paris!
Respirando fundo, Cherry seguiu seu caminho sem responder aquilo. Já longe, viu quando Amanda voltou para perto de Joanna carregando um grande saco de Doritos e falando animadamente alguma coisa. Respirando fundo, a Depardieu tentou ignorar aquilo e se concentrar apenas no que tinha ido fazer ali.
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A medida que o clima ia esfriando, as segundas-feiras iam se tornando ainda mais maçantes. As primeiras aulas do turno da manhã passaram que arrastando num ritmo sonolento. A maioria dos alunos estava distraída enquanto os professores passavam o conteúdo. Com a exceção de casos isolados como Cherry e Fani, que eram CDF’s da melhor qualidade, a maioria estava claramente com a cabeça em outro lugar.
Mas tudo mudou na aula de literatura.
— Bom dia, queridos. — disse a professora Mountbatten enquanto colocava seus livros sobre a mesa, já pegando o pincel atômico para começar a escrever na lousa enquanto os alunos iam se acomodando e tirando seus materiais — Já estamos na metade de setembro e isso significa que é hora de determinar nossa atividade extracurricular desse ano que será...
E terminando de pontuar o que escrevia, saiu da frente do quadro para que todos pudessem ler. Em letras garrafais, tomando quase todo o quatro estava escrito “FESTIVAL CULTURAL DA PRIMAVERA”. Os alunos trocaram algumas palavras rápidas, alguns claramente confusos, outros já falavam mais animados e, por último, tiveram os muxoxos e resmungos de “ah não” baixinho, claramente insatisfeitos.
— A escola decidiu esse ano realizar um festival cultural na primavera, já que ano passado tivemos a feira científica e muitos daqui se saíram muito bem. — dirigiu um olhar breve para Cherry que sorriu orgulhosa de si — Nós do terceiro ano e os alunos do segundo ano ficarão responsáveis por pela produção teatral. O título da nossa produção será anunciado na sexta-feira, mas podem ter certeza de que é um espetáculo maravilhoso. Iremos definir, além do elenco, duplas de trabalho que irão ajudar na produção num geral.
A medida que a professora ia falando, alguns alunos já se viraram nada discretamente para seus amigos começando a combinar duplas. Até mesmo Cherry foi uma delas. Apesar do imenso respeito que tinha pelas aulas e nunca conversar durante a explicação de um professor, virou-se rapidamente para Mitsuha, para combinar de serem uma dupla. Percebendo que tinha perdido um pouco do foco da aula, a professora pigarreou um pouco mais alto para chamar a atenção de volta.
— Para evitar que alguém fique sem dupla ou se sinta excluído de alguma forma, eu, a direção e o professor do primeiro ano decidimos que as duplas, assim como suas funções, serão decididas por sorteio. E não comecem com “AAAAAAAAH professora”, ok? Pensem que é uma ótima forma de interagirem com colegas que vocês não têm muita afinidade. Na sexta-feira, no final das aulas da manhã, iremos reunir todos no auditório para revelar não só a peça que iremos encenar, como também as duplas.
Mesmo com o alerta da professora, houveram sim vários “AAAAAH’s” de reclamação. Cherry soltou um muxoxo curto, mordendo o cantinho do lábio preocupada. Seu olhar rapidamente foi para as últimas fileiras, onde uma Joanna de cabelos lilás com mexas um pouco mais escuras parecia encenar uma cena muito dramática para as amigas que riam. Voltou a olhar para frente, fechando os olhos e encostando a testa entre as mãos. Se houvesse uma divindade, Cherry esperava que ao menos daquela vez estivesse ao seu favor.
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O intervalo chegou com um burburinho intenso. Obviamente que a semana cultural era o assunto mais comentado no refeitório. Aparentemente os alunos abaixo do ensino médio iriam ser responsáveis pelas apresentações musicais. Só o pessoal do último ano tinha sido dispensado para se focarem nas provas para as faculdades. Mas todos os outros alunos só tinham uma coisa em mente.
— Eu gostei da ideia. — disse Joanna enquanto colocava a bandeja numa das mesas, sentando junto com as outras rascals — Mas eu preferia poder fazer um grupo com vocês, certeza que a gente ia criar umas paradas muito maneiras, mas parece interessante.
— Então, com quem acha que vão fazer dupla? — perguntou Fani, enquanto sentava ao lado de Videl.
— Com a sorte que eu tenho, com certeza vai ser com algum gorilão do time de futebol. — disse Mildred, num tom dolorido, dirigindo um olhar para a mesa dos atletas do futebol, onde dois garotos falavam de boca cheia.
— Não seria tão ruim, vai, você ao menos poderia começar a namorar um deles e se tornar uma número 2. – disse Videl, com um ar divertido.
— Desde quando você faz referência à A Seleção, Vix? — perguntou Mildred, jogando um pedaço de batata que ela encontrou no meio do purê na direção da garota.
— O livro é ótimo, ok? Espero inclusive que a professora escolha essa história para gente encenar. Não me incomodaria de ser a América Singer se o gostoso do Tristan fosse o Maxon. — concluiu Videl, com um suspiro falsamente apaixonado, logo sendo atacada por mais pelotas de batata lançadas pelas amigas.
— Videl, você tem um terrível vício em macho, sabia? — perguntou Joanna num tom divertido, antes de voltar o olhar para Bekai, que parecia bem distraída desde o fim da aula de literatura — Aposto que você tá ansiosa pra fazer dupla com a Cora, né?
A pergunta pegou a coreana meio desprevenida. Estava no meio do processo de engolir um pouco do bolo de carne quando acabou engasgando. Só quando seu rosto estava muito vermelho – Joanna só não sabei do que – foi que ela conseguiu desengasgar, bebendo um longo gole do suco antes de falar, com a voz meio rouca pelo engasgo.
— O tanto quanto você está ansiosa por fazer com a Cherry?
Foi a vez de Joanna ficar surpresa com a resposta. O “uh” coletivo e prolongado de Fani, Videl e Mild fizeram ela revirar os olhos. Dirigiu o olhar rapidamente até a mesa dos populares, onde Cherry lixava as unhas enquanto conversava alguma coisa com Mitsuha e Tristan. Seus olhares se encontraram brevemente, mas a ruiva tratou de virar o rosto para o outro lado, fingindo que aquele momento não tinha acontecido.
— Boa resposta, prova de que você já é parte de nós, Bek... — disse num tom simples, dirigindo um sorriso para a coreana que respondeu com uma breve referência — mas não! A última coisa que eu quero no momento é ficar sozinha com Cherry Depardieu. Imagina só se a gente fica responsável por fazer os cenários? Eu e ela sozinha com um serrote? Minha cabeça ia fazer parte de uma árvore, com certeza!
Claro que ela falava num tom de voz bem-humorado, o que fez as outras garotas rirem um pouco, mas não deixava de ser verdade. Imaginava, pela forma como Cherry reagiu a ela no supermercado, que ela deveria de fato estar puta da vida o suficiente para lhe arrancar a cabeça com um serrote. Apesar de manter o ar de riso, abrandou um pouco enquanto pensava sobre o momento, perdendo o apetite que tinha antes e passando o resto do almoço brincando com a comida.
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A sexta-feira, num geral, já era bastante aguardada pelos alunos. Principalmente pela chegada do final de semana, pelos dois dias sem aula. Mas naquela sexta-feira em especial, o motivo era outro. A professora Mountbatten e o diretor se encarregaram bem de inflar a expectativa dos alunos, espalhando cartazes e anúncios periódicos sobre o festival cultural na rádio interna do colégio. Antes do meio-dia, as aulas foram canceladas para que os alunos do terceiro e do segundo ano pudessem ir até o auditório, onde haveria o sorteio. Mesmo com todo o burburinho, obviamente que era o assunto em todas as conversas, mesmo daqueles que pareciam desdenhar da ideia.
— Festival de artes. Quem liga para essa bobagem? — dizia Robert para alguns dos amigos do time de futebol enquanto seguiam para o auditório.
— Você teria que ter um cérebro para entender de arte, Robert. — disse Cherry enquanto passava por eles. Seguia ao lado de Mitsuha, Tristan, Travis e Cora na direção do auditório.
— Você sabe que eu não preciso de cérebro, Cher. — disse Robert naquele tom malicioso dele que só fez Cherry revirar os olhos. Dava para ver que ele se sentia espertão de dizer isso.
— É... — disse Travis segurando uma risada, olhando para o garoto de cima à baixo — a gente notou.
E apressaram o passo antes que Robert entendesse onde tinha errado.
O auditório já estava cheio quando chegaram. Os alunos se reuniam em pequenos grupinhos, conversando animadamente uns com os outros. A maior parte obviamente era relativo ao festival. Quando todos já estavam ali presentes, a prof. Mountbatten e o diretor subiram no palco para anunciar. Depois de uns dois minutos, conseguiram que todos se calassem para dar prosseguimento. O próprio diretor foi quem começou o anúncio.
— Olá, alunos! Como prometido, hoje será o dia em que determinaremos a apresentação que faremos no nosso festival cultural da primavera! Que, como o nome já deixa bem claro, acontecerá na primavera. Mais precisamente no primeiro fim de semana da primavera, para celebrar o fim do inverno!
— Como foi informado no começo dessa semana, os alunos do segundo e do terceiro ano vão apresentar uma produção teatral. E todos deverão participar ou terão um sério prejuízo na nota de literatura, artes e língua inglesa. As tarefas serão divididas por duplas. Algumas serão compostas por mais do que apenas uma dupla por ser trabalhoso de mais. E também, como foi informado, hoje é o dia em que iremos anunciar as duplas sorteadas e a história que iremos contar no palco. Preparados??
Foi possível escutar alguns tímidos “sim” vindos de alguns pontos do auditório. A maioria continuou calada. Ou por expectativa ou por não ligar tanto assim. Mesmo diante do pouco entusiasmo, a professora não esmoreceu, começando a anunciar, lendo tudo numa folha de papel A4 que ela tinha em mãos.
— Começando pelo principal, o título da nossa peça é....Tristão e Isolda!!! É inclusive um dos romances indicados na minha lista de livros para o ano. É uma ótima oportunidade para todos lerem. E para interpretar o nosso papel principal temos...Tristan e Iseult! Que coincidência, não é?
E puxou algumas palmas que foram acompanhadas principalmente por pessoas próximas dos dois sorteados para o papel principal. Cherry, Mitsuha, Cora e Travis começaram a cutucar e abraçar o garoto, que parecia meio tímido com a situação. Quase que do outro lado do auditório um grupinho fazia o mesmo com uma garota de cabelos pretos. Já tinham visto ela em outras oportunidades, apesar de não terem tanto contato assim. Era do segundo ano, Cherry já tinha a visto pelos corredores, durante mudanças de aula ou mesmo no refeitório. Depois das devidas palmas e dos amigos de cada um deles ter incomodado bastante os dois, a professora pigarreou e pediu a palavra novamente.
— Vamos agora anunciar as duplas que irão atuar nos outros papéis e também na produção, começando por...
E a medida que a professora ia anunciando, era possível ouvir gritinhos de comemoração, muxoxos e revirar de olhos e também alguns silêncios de indiferença. Mitsuha acabou sendo escolhida para fazer dupla com um garoto do ano deles que não conheciam muito. Um tal Gylf, membro da banda marcial, um tocador de flauta, como era comumente conhecido. Cora não escondeu a decepção ao ser designada para ficar com Marcus, um dos garotos do time de basquete. Cherry só não sabia se era algo contra o garoto ou por algum outro motivo. Já Travis foi escolhido para fazer dupla com Bekai, a garota que chegou com ele da Coréia. Cherry, por enquanto, era a única que ainda não tinha sido escolhida.
— Produção de figurino. Aqui vamos ao menos três duplas trabalhando. Separamos uma dupla para figurino principal, que ficará responsável por, obviamente, produzir o figurino dos personagens principais, outra para produzir o figurino dos coadjuvantes e a última dupla ficará responsável por produzir o figurino dos figurantes. A dupla responsável pelo figurino principal é Cherry Depardieu e....
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